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Desafios do revisor (parte 1)

  • Foto do escritor: Úrsula Massula
    Úrsula Massula
  • 17 de set. de 2020
  • 4 min de leitura

Atualizado: 26 de set. de 2020

Você, colega revisor, já parou para refletir sobre quais são os nossos principais desafios? Uma característica que nos move — a maioria, acredito eu — é o grande envolvimento com a base do nosso trabalho: o texto.


Ao realizar uma documentação da literatura científica sobre o tema, pude perceber isso. Então, compilei os principais desafios do revisor sob a perspectiva de pesquisadores e profissionais. Vamos a eles? Boa leitura!


Quais são as esferas da revisão de textos?


Para pontuarmos desafios e pensarmos sobre eles, é interessante voltarmos nossa atenção aos ambientes em que a revisão tem lugar.


Revisão e/ou revisor no âmbito escolar


Essa categoria refere-se à revisão como um trabalho didático, parte do processo da prática de produção de textos por alunos em ambiente escolar e a consequente leitura/correção pelo professor ou pelos colegas. Tem um caráter pedagógico, do ensino da autocorreção e da reescrita.


Revisão e/ou revisor na esfera institucional


Essa categoria está relacionada à prática específica do profissional que lida com o tratamento do texto. Na pesquisa realizada que citei, encontrei diversos artigos que tratam da revisão como prática profissional. Alguns exemplos de temas são:

  • discussão de aspectos como os limites éticos da atuação do revisor (revisão x copidescagem ou coautoria);

  • estudo das práticas de revisão nos cursos superiores voltados à formação de revisores de textos, seja no nível da graduação (bacharelado em Letras), seja no nível da pós-graduação.

E quais são os principais temas/desafios?


Como comentei ali em cima, percebi que os conteúdos dos artigos publicados nessa área são bastante heterogêneos, abrangendo desde a revisão de textos jornalísticos até a revisão de textos literários, passando por revisão de tradução, entre outros temas. Porém, é possível verificar assuntos e constatações em comum que se fazem presentes em boa parte das publicações. É justamente sobre esses que aparecem em maioria que falo na sequência — e na parte 2 deste conteúdo!


Conhecimento de mundo


Também podemos chamar de competência enciclopédica ou pragmática demandada ao revisor. Uma unanimidade entre os artigos que tratam sobre esse tópico mais a fundo ou mesmo por aqueles que apenas o citam em determinada passagem: a necessidade de um amplo conhecimento de mundo por parte do revisor. A área de revisão de textos é bastante abrangente, uma vez que qualquer texto, que trate sobre qualquer tema, é passível de ser revisado.


Há revisores especializados em determinadas áreas do conhecimento e que tendem a trabalhar com textos apenas dessas áreas, mas há também revisores que se propõem a revisar textos de praticamente qualquer área, se assim o forem solicitados a fazê-lo.


Independentemente da forma como o profissional atua, é essencial que ele tenha espírito aguçado para a pesquisa para que saiba detectar especificidades da língua que estejam presentes nos materiais revisados. Por exemplo, reconhecer uma palavra que pareça, em um primeiro momento, descontextualizada, mas que esteja cristalizada em determinada área com um sentido diferente do que aquele inicialmente atribuído a ela. Ocorrências como essa em um texto exigem do revisor um amplo repertório de conhecimentos e habilidades, a fim de que ele possa lidar de maneira satisfatória com elas.


E mesmo que se tenha o vasto conhecimento de mundo esperado, o revisor deve ser um profissional desconfiado, no sentido de sempre duvidar de alguma informação que lhe cause estranhamento e, com isso, realizar pesquisas para confirmar a adequação — ou inadequação — da informação apresentada. Então, desconfie, sempre!


Extrapolação do plano gramatical no momento da revisão


Outro desafio está relacionado à necessidade de o revisor atentar para além do plano formal em seus trabalhos. Isso, claro, depende do objetivo do serviço a ser prestado. Em alguns casos, o cliente poderá solicitar apenas a normalização e a verificação de aspectos formais do texto, como aqueles relativos à ortografia e à gramática.


Entretanto, de maneira geral, o que se espera do revisor é um olhar mais amplo e profundo sobre o material a ser revisado, que transponha as camadas superficiais. Além da revisão linguística — a mais conhecida —, outras possibilidades de revisão são:

  • gráfica — verifica as composições materiais e visuais do texto;

  • normalizadora — faz os devidos ajustes para atender a determinadas normas bibliográficas e editoriais;

  • temática — avalia se as formulações de um texto estão adequadas ao sistema de conhecimento com o qual o conteúdo se relaciona.

Limite (ético) às intervenções no texto alheio


Uma questão delicada que permeia o ofício do revisor está relacionada a qual seria o limite de intervenções em um texto. Embora a princípio isso possa parecer algo subjetivo, existem certos pontos que podem ajudar o revisor a não ultrapassar essa linha, muitas vezes tênue: um exemplo é o das especificações do cliente na contratação do serviço.


Porém, um ponto fundamental é que se respeite o estilo do autor, já que é justamente esse estilo que pode pressupor características individuais. Assim, as intervenções do revisor não devem descaracterizar o tom de voz de um autor ou uma marca, por exemplo.


Dialogismo entre autor e revisor


Muitas vezes, o diálogo entre revisor e autor é parte crucial do processo de revisão, seja para que o revisor tire uma dúvida sobre algum dado apresentado, seja para que discuta com o autor alguma sugestão de intervenção mais complexa, entre outras possibilidades.


Caso o cliente não tenha sido específico no momento da contratação sobre os tipos de intervenção esperados no texto, existe a possibilidade de diálogo entre as duas partes, tanto antes de o serviço ser iniciado quanto durante a execução do trabalho. É importante que o profissional tenha em mente que esse limite poderá ser bastante variável, a depender das demandas de cada trabalho.


Essa conversa, ainda que aconteça por meios eletrônicos — como e-mail e WhatsApp —, faz parte da construção do texto, contribuindo para a qualidade do material finalizado e para o cumprimento satisfatório da finalidade a que ele se destina. Um ponto importante desse dialogismo é a forma como ele é desenvolvido entre as partes envolvidas. Então, é preciso que o revisor, principalmente ao tratar de questões mais delicadas com o autor, sustente com clareza as razões pelas quais ele sugere ou tenha feito alguma intervenção no texto que possa gerar controvérsias.


Bem, esses foram os tópicos da parte 1 dos desafios do revisor. Espero que tenha curtido o conteúdo. Fico por aqui, mas no próximo post retorno com a parte 2, combinado?


Parte deste post foi extraída de um artigo de minha autoria publicado no periódico Revista do Instituto de Ciências Humanas da PUC Minas. Acesse: http://periodicos.pucminas.br/index.php/revistaich/article/view/16253

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